Tenho mais vida em Campinas, para onde vim em 1972 casada com o agricolino Celso Torres, do que em São Manuel, onde nasci, em 1950, e onde vivi até os 21 anos; eu era, a princípio, apenas filha da professora Maria Moura. Também o era de Vicente Ribeiro, mas difícil mesmo era carregar tanta herança intelectual. Meu apego aos estudos me valeu prêmios por parte da Prefeitura e da Câmara, quando cursei simultaneamente o Normal e o Clássico.
O amor às letras vem desde o pré no Augusto Reis até o ingresso no Instituto. Meus 17 anos, porém, não me permitiram lecionar. Cursei Letras em Botucatu. Dei aulas no Instituto e prestei concurso na Câmara de Vereadores, conquistando a única vaga. Lá ganhei agilidade na digitação e experiência na elaboração de atas e correspondências oficiais. Duas vezes a Prefeitura me pediu emprestada, o que muito me enriqueceu: apoio à artista plástica Maria Amélia Arruda Botelho de Souza Aranha no registro de objetos doados por ocasião da instalação do Museu e apoio a levantamento do acervo da Biblioteca para instalação da Faculdade.
Sou Mestre em Letras. Aposentada, descobri novo mundo: o voluntariado e uma participação mais ativa na fé. Minha experiência com cegos e grupos de idosos transformaram-me em pessoa com valores democráticos e antirracistas bem definidos. Meus livros distribuídos nas livreteiras e bibliotecas de São Manuel mostram que de ‘rata’ de biblioteca passei a escritora.
Sinto orgulho de São Manuel, onde ainda tenho família. O povo é acolhedor. Sou um documento humano que sempre torna às velhas fontes. A cidade é, para mim, uma crônica viva: muitos são os nomes de ruas e lugares que homenageiam meus conhecidos falecidos. Destaco, aqui, a Creche Maria Moura, que não deixará no esquecimento o nome de minha mãe.
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